quinta-feira, 3 de outubro de 2013


             

             Todo escritor é um pedinte. Implora que mesmo na morte haja companhia; seja em uma praça florida esperando a padaria da frente abrir para devorar o pão e o café com leite quente, ou seja nessa cadeira avarandada, vendo o sol erguer enquanto se espera a hora de uma loja de bicicleta abrir. 


       


           Os passos são feitos pelas folhas secas da rua. O vento é forte, antes de ser cinco da manhã o dia já é sol. Por todos os lados - vende-se -  apartamentos pequenos em prédios altos e azulejados de todas as cores, mas é sempre aquele pintado e desbotado de um amarelão febril que nos diz que o tempo não é uma filosofia ou estado de pregas, o tempo é ele mesmo. Em azulejados ou paredes descamadas, o tempo é e por mais que escorra ele nunca foi.
         A saudade é uma mentira que o corpo quer. Uma dor de cabeça que não se sabe para onde vai, mas sempre sabe onde e como voltar. A máquina de costuras e a televisão na varanda da minha vizinha é um corpo senhora segurando um neto. É o beijo apaixonado de uma volta que dará certo, sem dores de cabeça ou saudades.
       É hora de enterrar os gritos premonitórios dos galos que já não existem mais.

Toda palavra é agora. O ver do que eu escrevo e o que já passou. Todo lugar é tempo, inclusive eu, agora, adubo de planta.
                               
                São seis horas.